Entre garantir a conformidade com as Normas Regulamentadoras e provar o valor de cada investimento para a diretoria, o profissional de SST vive uma batalha diária. E quando o desafio envolve alta temperatura, essa pressão se multiplica.

A escolha de um EPI para alta temperatura, nesse cenário, vai muito além de um Certificado de Aprovação válido. É uma decisão que impacta diretamente a produtividade da equipe, os custos operacionais e a capacidade da empresa de proteger o que tem de mais valioso: os trabalhadores!

Este guia foi criado para ser seu aliado nessa missão. Aqui, não vamos apenas listar produtos, mas sim, construir um método para você fazer a escolha técnica correta e, mais importante, ter os argumentos para defendê-la como uma decisão de negócio inteligente.

Decodificando o risco: os tipos de calor que ameaçam sua equipe

A complexidade técnica não precisa ser um obstáculo. Para especificar o EPI correto, o primeiro passo é entender a natureza do calor no seu ambiente.

Tipos de calor e suas implicações

Tipo de calorComo aconteceExemplo prático na indústria
Calor Radiante (ou Irradiação)Transferência de energia por ondas eletromagnéticas,
sem contato direto com a fonte.
É o calor que “sentimos à distância”.
A sensação de calor ao se aproximar de um
forno de fundição ou de metal incandescente.
Calor por ConvecçãoTransferência por meio de fluidos
(líquidos ou gases).
O ar quente que circula no ambiente aquece o corpo.
Trabalhar em uma área fechada com fornos,
onde todo o ambiente está aquecido.
Calor por Contato (ou Condução)Transferência direta de
calor ao tocar um objeto ou superfície quente.
Manusear ferramentas,
peças ou equipamentos aquecidos.
Respingos de metal fundidoRisco combinado que envolve calor
por contato e radiação em
altíssima intensidade e de forma súbita.
Atividades de vazamento em
fundições, aciarias e metalúrgicas.

Como referência prática, a avaliação do calor por meio do IBUTG (Índice de Bulbo Úmido e Termômetro de Globo) considera os seguintes limites de tolerância para trabalhadores aclimatizados em regime de trabalho contínuo: até 30,0°C para atividades leves, 26,7°C para atividades moderadas e 25,0°C para atividades pesadas.

O arsenal de proteção: EPIs essenciais para Alta Temperatura

Com o risco mapeado, a escolha do EPI se torna mais clara. Lembre-se: a especificação técnica deve andar de mãos dadas com a aceitação do usuário final.

Luvas aluminizadas: proteção para as mãos

  • Luva aluminizada: são a linha de frente na proteção das mãos.
    • Performance: a camada aluminizada reflete o calor radiante, enquanto o material base oferece resistência ao contato e à abrasão.
    • Feedback do usuário: modelos com bom design garantem o tato e a flexibilidade necessários para a execução das tarefas, aumentando a adesão ao uso.

Vestimentas aluminizadas: proteção corporal

  • Avental aluminizado, blusão aluminizado e calça aluminizada: protegem o tronco e os membros.
    • Performance: criam uma barreira corporal contra a radiação intensa e, principalmente, contra respingos de metal fundido. Um forro interno em tecido antichama aumenta a segurança e o conforto.
    • Feedback do usuário: o peso e a ergonomia são cruciais. Equipamentos que permitem liberdade de movimento são usados de forma correta e consistente.

Capuz aluminizado: proteção para cabeça e rosto

  • Capuz aluminizado: protegem a cabeça, o rosto e o pescoço.
    • Performance: indispensável contra a radiação infravermelha, que pode causar danos sérios aos olhos e à pele do rosto.
    • Feedback do usuário: a qualidade do visor (sem distorções) e a ventilação interna são fatores decisivos para a aceitação e para a segurança do trabalhador.

O Método de 5 passos para uma escolha técnica e segura

Adote um processo estruturado para eliminar o “achismo” e se defender de questionamentos.

Passo 1 – análise detalhada dos riscos

Vá até o local. Observe a tarefa, converse com a equipe e use os conceitos da tabela acima para definir a qual tipo de calor o trabalhador está exposto.

Passo 2 – seleção e especificação técnica

Com os riscos definidos, especifique o EPI necessário (luva, avental etc.) e as características que ele precisa ter (nível de proteção, material etc.).

Passo 3 – validação da qualidade e conformidade

Este é um passo inegociável. Além de garantir um C.A. válido, todo o processo de gestão do calor deve seguir as diretrizes regulatórias. Para isso, é fundamental conhecer a fundo a NR 15, que estabelece os limites de tolerância e as melhores práticas para a segurança da sua equipe.

Nota: é importante destacar que a NR 15 está em processo de revisão, com expectativa de atualizações nos critérios e limites de tolerância até 2026, o que reforça a necessidade de um acompanhamento contínuo das regulamentações.

Passo 4 – o teste do conforto e da mobilidade

Antes de comprar em larga escala, realize um teste de campo com a equipe. Crie um roteiro simples de avaliação onde os próprios usuários possam dar notas para conforto, facilidade de uso e percepção de segurança. Esses dados validam sua escolha técnica.

Passo 5 – treinamento e monitoramento contínuo

Entregue o EPI para alta temperatura e treine a equipe sobre o uso, a higienização e as limitações do equipamento. Monitore o uso e as condições dos EPIs regularmente.

Passo 6: Documentação e registro das avaliações

Por fim, mas não menos importante, documente todo o seu processo de análise de risco, as especificações técnicas consideradas, os resultados dos testes de campo e a justificativa para a escolha do EPI final. Manter um registro técnico detalhado não é apenas uma boa prática, mas uma proteção essencial em auditorias e processos de fiscalização, garantindo a rastreabilidade e a defensibilidade das suas decisões.

Do custo ao investimento: como provar o ROI do EPI e construir seu business case

A principal barreira para um investimento em segurança de qualidade ainda é a “mentalidade do custo”. Muitos diretores enxergam o EPI como uma despesa obrigatória, e não como um pilar da produtividade. Sua missão, como profissional de SST estratégico, é mudar essa narrativa usando argumentos e dados. Use estes conceitos para construir seu caso:

Impacto do estresse térmico na produtividade

Estresse térmico e produtividade: colaboradores expostos a calor excessivo têm sua capacidade de concentração e desempenho reduzida. Isso leva a um aumento na taxa de erros, retrabalho e, consequentemente, a uma queda na produção. O EPI correto, que garante o conforto térmico, é um investimento direto na eficiência operacional.

Redução do FAP e economia de custos

Redução do Fator Acidentário de Prevenção (FAP): acidentes e afastamentos gerados por queimaduras, exaustão térmica ou outros incidentes relacionados ao calor impactam diretamente o FAP da empresa. Um EPI de alta performance reduz a frequência e a gravidade desses eventos, gerando uma economia significativa nos impostos.

Absenteísmo e Presenteísmo: custos invisíveis

Absenteísmo e presenteísmo: o desconforto contínuo gera fadiga e aumenta o número de afastamentos (absenteísmo). Pior ainda, leva ao presenteísmo: o colaborador está no local, mas rende muito abaixo do seu potencial.

Análise de custo-benefício: exemplo prático

Com esses argumentos em mãos, o próximo passo é apresentar os números. Para ilustrar como o EPI mais barato quase nunca é o mais econômico, montamos uma simulação prática.

Atenção: a análise a seguir é um exemplo puramente didático. Os valores, produtos e dados de vida útil são hipotéticos e foram criados apenas para ilustrar o método de cálculo do ROI. Você deve substituir estes números pelos dados reais da sua operação e dos seus fornecedores.

EPI “A” (custo baixo)EPI “B” (alta performance)
Preço por unidadeR$ 80,00R$ 160,00
Vida útil (em uso severo)1 mês3 meses
Custo anual por colaboradorR$ 80,00 x 12 = R$ 960,00R$ 160,00 x 4 = R$ 640,00
Economia Anual com EPI “B”R$ 320,00 por colaborador

Essa análise simples mostra que o EPI com maior custo inicial gera uma economia de 33% ao final de um ano, sem contar os custos “invisíveis” que ele evita, como a menor probabilidade de acidentes e afastamentos.

Conclusão: sua decisão é um investimento estratégico

A escolha do EPI para alta temperatura ideal é uma das decisões mais estratégicas que um profissional de SST pode tomar. Ela afeta a segurança, as finanças, a produtividade e a cultura da empresa. Ao usar dados e argumentos de negócio, você eleva sua função de um centro de custo para um pilar de resultados, transformando a segurança em um verdadeiro trunfo para o negócio.

Sabemos que essa responsabilidade é imensa e estamos aqui para ser seu parceiro nessa jornada.

Transforme a teoria em prática. Fale com um de nossos especialistas e receba o apoio necessário para construir e apresentar o business case do EPI ideal para sua diretoria.

Conte conosco para fortalecer a segurança e a performance da sua operação.

Até o próximo conteúdo.